Imagem ilustrativa da imagem É o fim do mundo
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Certa vez correu um boato de que Mark Twain havia morrido. O grande escritor americano, que jamais perdia uma piada, enviou um telegrama aos jornais: "As notícias sobre a minha morte foram um pouco exageradas".

Nesta semana algo parecido aconteceu com nosso planeta. A Terra gritou para o meteoro:

— Me erra!

E o meteoro, além de errá-la, saiu esnobando:

— Não estou a fim do mundo.

As notícias sobre o fim do mundo foram um pouco exageradas, assim como as notícias sobre a vitória de Hillary Clinton, a derrota do Brexit e o fim da Lava Jato. Isso para não falar em fiascos monumentais como o bug do milênio, que acabou bugando. Acho que só eu mesmo me lembro dele.

Desta vez, um gaiato procurou justificar o não-fim do mundo dizendo que meteoros não trabalham com horário de verão (que termina neste sábado). Não deverão prosperar hipóteses como essa; de verão já basta o calor.

Por sinal, estava eu lendo dias atrás "O Retrato", de Erico Verissimo, onde o autor menciona a passagem do cometa Halley pela Terra, em 1910. O trecho é belo:

"Naquela noite muita gente não dormiu em Santa Fé. (...) Poucos minutos depois das três da madrugada, a cauda do cometa apontou no céu, nas bandas de leste, por trás das coxilhas da Sibéria. Começou, então, o alvoroço na cidade. ‘Olha o bruto!’ — exclamavam. Homens e mulheres, alguns em camisolas de dormir, apareciam às janelas. Houve correrias nas ruas, exclamações de triunfo e pavor. Alguns fiéis bateram à porta da igreja e o Padre Kolb, que ainda não pregara o olho, mandou o sacristão abrir o templo, que dentro em pouco ficou cheio de mulheres ajoelhadas, a rezar."

Como escrevia bem esse Verissimo! Deveria ele ter pálidas lembranças da passagem do Halley, porque tinha apenas quatro anos à época. Mas deixou-nos essa preciosidade, uma das muitas encontradas nos sete volumes de "O Tempo e o Vento" (procure na Biblioteca Municipal, você não se arrependerá).

Pena que em 1986 o cometa Halley passou tão longe da Terra. Foi apenas um risquinho quase invisível no céu. Ao contrário de 1910, ninguém achou que o mundo ia acabar. Agora, só em 2061 ou 2062. Estarei vivo para ver? Provavelmente, não — mas meu filho vai.

Existe muita confusão sobre o termo "fim do mundo". As pessoas em geral o confundem com o Apocalipse, palavra que significa "revelação". Eu diria que o Apocalipse, ao contrário do que se pensa, é o verdadeiro começo do mundo. Isso que estamos vivendo aqui é apenas um prólogo do que Deus reservou para nós.

Quando penso em fim do mundo, penso acima de tudo em finalidade do mundo. Afinal, viemos ao mundo para quê? Estamos aqui a passeio, mergulhados em um pesadelo niilista, ou há um sentido realizável por cada um de nós? Muito mais do que uma interminável luta por direitos, a vida consiste no cumprimento de um dever essencial, que nunca se esgota em nosso próprio ego, mas exige sacrifício, compaixão e amor ao próximo. O fim do mundo é sempre o outro.

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