Entro na van e Jair Bolsonaro se senta ao meu lado. "O sr. prefere que eu o chame de capitão ou deputado?", pergunto. "Deputado ou capitão, tudo bem. Mas presidente não pode." Um assessor se aproxima e oferece sanduíches. Agradeço, mas recuso; ele aceita. E, então, acontece o improvável: Jair Messias Bolsonaro come um sanduíche de mortadela na presença do cronista-repórter. "Tá bom, viu?"
Bolsonaro não tem eleitores — tem fãs. Bolsonaro não tem adversários — tem inimigos. Para uns, um mito. Para outros, um mico. De qualquer forma, uma impressionante quantidade de amor e ódio envolve o personagem. Ele possui a capacidade de atrair e repelir multidões — principalmente jovens. Se isso é bom para a política brasileira, não sei. Mas é um fenômeno. "Um ET que desembarcasse em Londrina poderia dizer que estamos recebendo um astro do rock", diz-me um amigo.
Bolsonaro é pop. Mas o que me preocupa, em tudo isso, é o culto à personalidade daquele que, no final das contas, é apenas homem de carne e osso. Só consigo pensar em outro personagem que desperta paixões tão intensas: Lula. Muito cuidado nessa hora.
Acompanhei o "não candidato" presidencial durante toda a visita a Londrina. No aeroporto, no hotel, na prefeitura, na Câmara, na palestra, o clima era passional, enquanto o protagonista do espetáculo (os críticos completariam: circense) mantinha-se calmo, sorridente, solícito, espirituoso, embora visivelmente cansado.
"Por que o sr. veio a Londrina, deputado?", questiona um colega que chega atrasado à entrevista coletiva. "Ah, vim pra te ver!" Bolsonaro é zueiro. Do tipo que perde o amigo, mas não perde a piada. Ao final da coletiva, ele elogia a imprensa da cidade: "Vocês foram duros, mas respeitosos".
Na frente da prefeitura, guardas municipais se perfilam para receber o visitante. Depois de fazer vários selfs — o autógrafo moderno —, ele marcha. Jair, para onde? Para, mais alguns selfs. No gabinete do prefeito, o clima é amistoso. "Bolsonaro foi o primeiro amigo que eu fiz na Câmara dos Deputados", diz o prefeito Marcelo Belinati, depois de lhe presentear com uma camisa do Londrina. "O LEC vai ser o campeão da Série B!", responde o visitante. Bolsonaro é aquele tiozão reaça e piadista que todo mundo adora ver no Natal. Resta saber se esse tiozão tem condições de ser presidente.
Ele é chamado de racista, machista, homofóbico, xenófobo, autoritário. Diz que não é nada disso. "Não quero dividir o país, sou contra a luta de classes. Quero a união de ricos e pobres, homens e mulheres, brancos e negros, héteros e gays, civis e militares, sul e norte. Só não quero conversa com bandido." Ele sempre anda com uma pistola, mas sua maior arma é a sinceridade.
"O mito é o nada que é tudo", escreveu Fernando Pessoa. Você pode gostar ou não dele, mas precisa encarar os fatos. Mito ou mico, Jair Bolsonaro é uma realidade. Conheça-o melhor lendo a entrevista exclusiva concedida à coluna

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