Imagem ilustrativa da imagem Bolsa-ladrão



A história que vou contar a vocês hoje parece inventada, mas não é.

O João é um pequeno agricultor na região de Londrina. Pouco antes das seis horas da manhã, na última segunda-feira, ele chegou para trabalhar no sítio em que planta soja.

Logo de cara, notou que havia alguma coisa errada. O cadeado da primeira porteira estava arrebentado; na segunda porteira, entreaberta, havia marcas de sangue, que se espalhavam pelo chão da propriedade.

Alguns passos adiante, debaixo do pé de mexerica, ele viu qual era o problema. Bidu, o seu fiel cão fila, montava guarda diante de um homem ferido no rosto e nos braços. Era o ladrão. Bidu não só evitou o roubo à propriedade do agricultor, como também impediu que o assaltante fugisse.

Imediatamente João chamou o Samu e a polícia. O Samu, para atender o ladrão ferido. A polícia, para registrar o crime.

O pessoal do Samu perguntou se Bidu estava com as vacinas em dia. Tudo certo: o cão está devidamente vacinado. Quando pequeno, recebeu adestramento (note-se que ele não atacou órgãos vitais).

Mas vocês pensam que eu estou escrevendo esta crônica para exaltar as qualidades de um cão herói? Quem dera! Estou escrevendo para relatar uma situação digna de uma peça de teatro absurdo.

Eis que João estava com o Bidu, no sítio, e toca o celular. Era do hospital onde o ladrão fora atendido.

— O sr. é dono do cachorro que atacou o ladrão?

— Sim, sou eu.

— Pois vai ter que pagar as despesas hospitalares.

— Mas ele invadiu minha propriedade!

— Isso não importa. Quem acerta a conta é você.

Perplexo, João ligou para sua advogada, relatando a situação. O cara é que tenta roubá-lo, e ele é que paga as despesas médicas?

Mas não termina aí. Minutos depois, quem liga é a mãe do ladrão.

— Olha aqui, sr. João. Fique sabendo que o seu cachorro atacou um pai de família, que tem filhos pequenos! Eu vou entrar na Justiça e o sr. vai ser obrigado a pagar cestas básicas e uma indenização para a família dele!

É isso mesmo que vocês sete leram: João foi assaltado e a mãe do ladrão quer processá-lo porque o cachorro defendeu a propriedade do dono.

Neste país em que rezar o Pai-Nosso em público está virando crime, não dou muito tempo para que algum político esquerdista — de um desses partidos que tomaram uma surra nas eleições — venha a propor a criação do benefício bolsa-ladrão, especialmente destinado aos gatunos que sofrem "acidentes de trabalho" durante assaltos. Ora, se o cão morde o ladrão, morda-se o dono!

Para a história ficar perfeita, eu apenas substituiria o pé de mexerica por uma jabuticabeira. Porque certas coisas, como a jabuticaba, só acontecem no Brasil.

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