Imagem ilustrativa da imagem Aventuras de um blogueiro reaça
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Em 1963, o jovem poeta russo Joseph Brodsky foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria, por crime de "parasitismo social". De nada adiantou a Brodsky dizer ao tribunal que havia passado a maior parte dos anos anteriores escrevendo e traduzindo poemas. Como os escritores oficiais do Partido Comunista não o consideravam poeta, ele não era poeta.

Se os intelectuais oficiais do Partido voltarem ao poder central no Brasil, com a vitória do Grande Companheiro nas urnas Smartmatic, todos aqueles que escrevem com alguma liberdade em nosso país terão para si um destino muito semelhante ao do jovem Brodsky. (Embora nenhum tenha o seu talento: o "parasita social" foi expulso da União Soviética em 1972 e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura quinze anos depois.)

No mundo socialista, os inimigos do Partido não perdem apenas a liberdade; eles perdem também o direito a uma profissão. Milan Kundera teve que se virar tocando jazz em boates tchecas; Ivan Klíma tornou-se varredor de rua em Praga; Reinaldo Arenas foi cortar em cana em Cuba — e assim por diante...

Recentemente, na reunião de um conselho superior universitário, fui citado como "um blogueiro da cidade". Ora, nada contra os blogueiros (desde que eles não sejam financiados com dinheiro público, como aconteceu durante a era do PT), mas essa não é minha profissão. Eu sou escritor e jornalista; é assim que eu ganho a vida e sustento minha família. O fato de um médico ou advogado ter um blog, como eu tenho, não o torna mais blogueiro do que profissional da saúde ou das leis. O mesmo ocorre comigo. Por sinal, meu diploma de jornalismo é da mesma universidade em que fui citado, embora minha verdadeira escola de jornalismo tenham sido os jornais e instituições em que trabalhei (como a Folha de Londrina).

Parece ser uma obsessão da esquerda — não só aqui, mas em todo o mundo — trocar o nome das coisas. Aborto é "interrupção da gravidez"; eutanásia é "morte sem dor"; censura é "controle social da mídia"; corrupção é "governo do povo"; mentira "é pós-verdade". Em novillíngua, escritor (não esquerdista) é blogueiro.


Como disse o meu querido amigo Luke De Held, fui alvo do que em linguagem jurídica se chama "capitis diminutio" — uma tentativa de rebaixar publicamente a importância de uma pessoa. Brodsky foi vítima de uma "capitis diminutio" no tribunal comunista. Pelo menos estou em boa companhia!

De qualquer modo, noto algum avanço na forma como os intelectuais esquerdistas me tratam. Até dias atrás, eles nem se dignavam a pronunciar meu nome; diziam simplesmente "aquele cidadão que se diz cronista", "aquele reaça do jornal", ou ainda "aquele olavette". Meu caso é parecido com o do vilão no desenho dos Super-Amigos, o duende Mxyzptlk, cujo nome não podia ser pronunciado nunca.

Blogueiro não é ruim. Contudo, se da próxima vez os companheiros disserem "escritor e jornalista", ficarei bastante grato. É assim que eu respondo a meu filho, quando ele pergunta por que eu trabalho tanto.