O garoto não tinha antecedentes infracionais. Havia ameaçado riscar o carro do diretor da escola. Agora estava ali, diante do promotor. Acompanhava-o a avó, uma senhora bastante idosa, por quem o rapazinho fora criado, na ausência dos pais. A mãe sumira no mundo.

Dr. Marcelo teve então uma ideia inusitada. Chamou a assistente da promotoria e disse:

— Vamos fazer um passeio. Quero levar esse garoto para conversar com uma pessoa.

De carro, foram os quatro — Dr. Marcelo, o garoto, a avó e a assessora — até um prédio soturno na zona sul da cidade, rodeado por muros altos e guaritas. Nesse estranho lugar, existe uma regra suprema: duas portas não podem ficar abertas ao mesmo tempo. O garoto sentiu um gelo na espinha quando a primeira porta se trancou às suas costas. Os outros três compartilharam o sentimento.

Foram então conduzidos por um funcionário até uma sala especial. De uma porta de ferro contígua, saiu um homem com pouco mais de 40 anos. Estava algemado e vestia uniforme. Sentou-se numa cadeira, diante dos quatro visitantes.

O rapaz aproximou-se do homem. Estavam frente à frente. Foi-lhe dada uma cadeira para que se sentasse também. Dr. Marcelo, a avó e a assistente acompanhavam tudo. Depois de alguns instantes de silêncio, o homem começou a falar.

Imagem ilustrativa da imagem As algemas



Usava a linguagem das celas, com várias expressões correntes na prisão, mas fazia-se compreender. O menino tinha os olhos fixos nas mãos do homem: mais precisamente, em suas algemas.

O homem contou que estava condenado a 79 anos, 1 mês e 12 dias de prisão, por vários assaltos a mão armada. Falou-lhe tudo que sabia sobre a importância de respeitar professores, diretores e funcionários de escola — noções que havia aprendido com a velha senhora sentada ali na mesma sala. Também lhe relatou tudo que conhecia sobre uso de drogas, começando pelos males da maconha, e através dessa ponte passando às substâncias mais pesadas e letais. Confessou que já tivera conta em cinco biqueiras de tráfico na cidade. Foi interrompido uma única vez pelo promotor, que pediu para o homem não tratar o rapaz por "mano", mas por outro termo mais adequado.

O menino ouviu o preso com atenção e pasmo. Ficou fortemente impressionado.

O preso era o pai do menino.

O menino saiu da penitenciária decidido a mudar de vida. Deu adeus à maconha, quer retomar os estudos e ajudar a pessoa que mais ama neste mundo: a avó.

Se entre meus sete leitores houver alguém que possa oferecer uma chance a este menino, eu agradeceria do fundo de meu pobre coração.

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(Observação: Empresas londrinenses que quiserem empregar legalmente adolescentes podem entrar em contato com a Epesmel pelo fone 43 3325-4128.)

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