Imagem ilustrativa da imagem A hora da Benzetacil


Tive muitas dores de garganta na infância. Vivia com um pano embebido em álcool enrolado no pescoço, e só podia tomar sorvete uma vez por semana, mesmo assim de maneira absolutamente excepcional, sendo obrigado a beber dois ou três copos de água morna após um mísero picolé.

Mas o pior de tudo eram as injeções. E, entre as injeções, a mais temida de todas elas: a famigerada Benzetacil.

As crianças de hoje em dia não fazem ideia do medo que tínhamos dessa injeção, conhecida por ser a mais dolorosa de todas.

A hora mais temida em minha infância era a hora da Benzetacil. Havia uma farmácia na Rua Lopes Chaves, em São Paulo, que eu passei a definir, em minha imaginação, como "a farmácia da Benzetacil". Até hoje sonho com essa farmácia, com o farmacêutico de óculos...

Eis que hoje, depois de passar uma noite em claro, torturado pela febre e a velha dor de garganta, finalmente procurei atendimento médico. E a doutora me colocou diante de duas opções:

— Você pode tomar antibiótico... ou uma Benzetacil.

Por um breve instante, hesitei. Então lá estava eu, colocado mais uma vez frente a frente com minha velha inimiga. Mas, inexplicavelmente, enchi-me de uma coragem que não tenho e disse:

— Doutora, eu vou de Benzetacil.

E querem saber? Foi a melhor decisão. Horas depois da injeção, eis que estou aqui, de volta ao trabalho, ainda não plenamente recuperado, mas já bem melhor. A dorzinha da agulhada torna-se irrelevante. A Benzetacil, meus amigos, faz parte da solução, não do problema.

Devemos temer o sofrimento inútil, a dor que só dói e nada significa. Aquele farmacêutico de óculos, vilão da minha infância, na verdade poupou-me de sofrimentos muito piores do que uma agulhada. Não sei se ele ainda está vivo, mas deixo aqui o meu muito obrigado, com 40 anos de atraso.

E você, Benzetacil, não é minha inimiga, é minha companheira.