Imagem ilustrativa da imagem A filha única
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Sinto a tristeza nos olhos de meu amigo e lhe pergunto se alguma coisa está errada. Ele conta que a filha enfrenta um sério problema de saúde. Por um instante, olho para ele em silêncio. Digo, enfim, as palavras necessárias: tenha fé, ela vai melhorar, conte com as minhas orações. Aperto-lhe a mão e venho para casa escrever a coluna de hoje.
Ah, Senhor, se as minhas palavras fossem como as Suas e tivessem o poder de curar! Mas elas são apenas reflexos de reflexos, sombras de sombras, migalhas das migalhas. Às vezes eu gostaria de ser como meu amigo Lucio Baena de Melo, a quem Deus agraciou com o dom de curar as pessoas.
Dr. Lucio revela-se agora escritor, seguindo a tradição de Tchekhov, Guimarães Rosa, Jorge de Lima, Viktor Frankl, Pedro Nava e tantos outros. Seu primeiro livro, que tive a honra de prefaciar e acabo de receber, está sobre a minha mesa. "Sobre" é uma coletânea de crônicas, poemas, discursos e reflexões que saíram de sua pena nas últimas décadas.
Abro o livro de Lucio Baena e releio a crônica "A Criança Doente". Inspirado pela tela de Gabriel Metsu (1660), o médico dirige suas palavras a uma pequena paciente desconhecida e anônima, imaginando quais os caminhos percorridos por ela, tentando dividir ao menos um pouco daquela dor tão distante no tempo e no espaço, mas ao mesmo tempo tão próxima de nosso coração. Imediatamente pensei na filha de meu outro amigo.
Tempos atrás eu conversava com um veterano médico, português de nascimento, que me contou ter feito 30 mil cirurgias ao longo da vida. É o equivalente a salvar a vida de uma cidade inteira! O velho doutor revelou-me então que na mesa de cirurgia sempre lhe vinha a mente a frase de um professor: "Lembra-te: antes de ser cirurgião, és médico; e, antes de ser médico, és homem".
Lúcio Baena, antes de ser médico, é homem. Ao ler seus escritos, alegro-me por encontrar uma devoção tão pura aos afetos familiares e aos valores cristãos. As crônicas, os poemas e a oratória do autor celebram a amizade, o respeito aos mestres, a ética profissional e a beleza do sacrifício (sagrado ofício) da medicina.
Dr. Lucio é o neurologista que escreve com o coração nas mãos. Ele tem a capacidade de emocionar o leitor ao evocar os símbolos de sua vida — como o banquinho de madeira onde começou a namorar a esposa Fernanda (quando ambos eram estudantes de Medicina) e a árvore sob cuja sombra leu seus primeiros livros na infância.
Lucio e Fernanda têm hoje um lindo casal de filhos. Sei que o médico-escritor entende perfeitamente a dor e a preocupação que meu outro amigo está sentindo agora. Conhecendo a sua profunda fé, Dr. Lucio, eu peço que faça uma oração pela filha única que está doente como aquela criança do quadro.

Deus escuta o que você diz, meu amigo.

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