Imagem ilustrativa da imagem A estrutura da realidade é uma Pessoa


Uma das minhas alegrias é combinar leituras velhas com leituras novas.

Estou lendo com entusiasmo os diários de Pierre Van Der Meer de Walcheren, reunidos em "Magnificat".

E hoje tive vontade de reler alguns poemas de "O Poço do Calabouço", livro de Carlos Nejar publicado em 1974.

Em cada uma dessas obras, tão distantes no tempo e no lugar em que foram produzidas, encontrei mensagens que abordam os temas da liberdade e do Espírito Santo (os quais, no fundo, são o mesmo tema, pois a liberdade humana nasce do Sopro de Deus).

Veja o que Walcheren escreveu em 29 de maio de 1952:

"Dia 1º de junho será Pentecostes, festa da misteriosa Terceira Pessoa da Trindade que eu chamaria de personificação da vida íntima de Deus. É-nos particularmente difícil captar esta unidade das três Pessoas porque só temos condições de pensar nelas sucessivamente. Se algo existe de inefável, de inimaginável acima de qualquer conhecimento, é o Paráclito. Este fogo, esta chama que queima as almas é uma Pessoa! Ignis consumens.
De Jesus e do Pai podemos falar em termos de matéria, mas... e do Espírito? Ele é o vento invisível que sopra onde quer. É o Intangível, é a Realidade."

E agora reflita sobre estes belíssimos versos libertadores de Carlos Nejar (um poeta brasileiro que, a meu ver, deveria ser muito mais apreciado e valorizado):

ALFORRIA

Pássaros somos
sem menor retorno.
Depois as asas doem
e as folhas tombam.

Aos poucos
vou comprando
a liberdade.

Os sapatos doem,
as roupas doem,
a morte
não tem dor,
doendo em nós.

Aos poucos
vou comprando
a liberdade.

De chofre
nada nasce

A vigilância
cobre nosso sono
com gaiolas e tômbolas.

E o comércio
do sonho
se dissolve.

Aos poucos
vou comprando
a eternidade.