Imagem ilustrativa da imagem A corrupção infinita



Li agora duas obras fundamentais e gêmeas: "O Zero e o Infinito", de Arthur Koestler, e "A Corrupção da Inteligência", de Flávio Gordon. Embora escritos em épocas distintas (1940 e 2017) e pertençam a gêneros diferentes (romance e ensaio), os dois livros trazem perturbadoras e convergentes lições sobre a tragédia histórica do nosso tempo. Selecionei alguns trechos luminosos de Koestler e Gordon e compartilho aqui com vocês sete:

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"Toda ação humana foi politizada, ou seja, vista como disputa por poder, e todo indivíduo se vê agora como ativista e representante de uma causa." (A Corrupção da Inteligência)

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"O movimento não tinha escrúpulos; rolava inexoravelmente rumo à sua meta depositando os cadáveres dos afogados nas reentrâncias de seu curso. O curso tinha muitas curvas e reentrâncias; essa era a lei da sua existência. E quem não fosse capaz de acompanhar seu curso tortuoso era relegado à margem, pois essa era a sua lei. Os motivos individuais não interessavam. A consciência do homem não interessava, tampouco o que lhe passasse pela cabeça e o coração. O Partido só conhecia um crime: desviar-se do curso traçado; e só um castigo: a morte. A morte não constituía mistério para o movimento; nela nada havia de enaltecedor; era a solução lógica para as divergências políticas." (O Zero e o Infinito)

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"Na verdade, a esquerda é tão hegemônica no Brasil que grande parte dos intelectuais públicos, quer formadores, quer difusores de opinião, é de esquerda sem nem mesmo saber disso. Essas pessoas adotam uma perspectiva de esquerda porque nunca conheceram outra, porque ser de esquerda lhes é tão natural quanto respirar." (A Corrupção da Inteligência)

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"O princípio segundo o qual os fins justificam os meios é e continua sendo a única regra da ética política; tudo o mais não passa de conversa mole e se derrete entre os dedos." (O Zero e o Infinito)

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"O sentimento de culpa — a famigerada culpa ‘judaico-crist㒠— não integra a estrutura da consciência da esquerda, e é isso que faz com que os males políticos por ela cometidos sejam mais profundos e destruidores que os demais. (...) Há duas coisas que o comunismo fez em escala industrial: denunciar e matar." (A Corrupção da Inteligência)

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"Só existem duas concepções de ética humana, e estão em polos opostos. Uma é cristã e humana, considera o indivíduo sagrado e afirma que as regras da aritmética não se aplicam às unidades humanas. A outra concepção parte do princípio básico de que um objetivo coletivo justifica todos os meios, e não só permite como exige que o individual seja, em todos os sentidos, subordinado e sacrificado à comunidade." (O Zero e o Infinito)

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"Autoimunizados contra os efeitos da corrupção praticada pelo seu partido durante o tempo em que controlou o poder de Estado, aqueles justiceiros sociais já se aplicam na montagem de uma nova e mais nociva estrutura corruptora." (A Corrupção da Inteligência)

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