Imagem ilustrativa da imagem A chegada de nossa santa
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Ela chegou em uma fria manhã de chuva, em 30 de julho de 1957, há exatamente 60 anos. Madre Leônia Milito desembarcou na estação ferroviária acompanhada por suas fiéis companheiras de viagem, Irmã Eucarística e Irmã Imaculada. Não foi uma recepção solene, mas uma acolhida simples e calorosa, por dois ou três fiéis da Igreja local. Da estação, as três religiosas foram para a modesta casa cedida pela Sociedade Vicentina, onde as esperava Dom Geraldo Fernandes. O arcebispo lhes deu a chave da casa e perguntou:

— As senhoras vão se adaptar a esta pobreza?

— Dom Geraldo, isso aqui para nós é um luxo. Sempre fomos pobres no meio de pobres.

Tudo na cena que acabou de ser descrita é revestido de história e milagre. A estação ferroviária se tornaria o Museu Histórico de Londrina. A casinha dos vicentinas se tornou a Casa da Memória Madre Leônia e o Espaço Histórico Dom Geraldo Fernandes. Os nomes das irmãs que acompanhavam Leônia — Eucarística e Imaculada — representam os valores sagrados que salvarão o mundo. A chuva significava a purificação e a fecundidade da nova terra. E a chave que Dom Geraldo entregava a Madre Leônia simbolizava a obra miraculosa que eles juntos iriam criar: a Congregação das Missionárias Claretianas, hoje presente nos cinco continentes. Tudo nasceu a partir daquela casinha. Tudo nasceu naquele momento, como um grão de mostarda.

História e milagre. Humildade e coragem. Bondade e alegria. Sobre a mesa, Leônia e as irmãs encontraram o que havia para a refeição daquela noite: um pacote de fubá e alguns tomates na fruteira. Felizes, agradeceram a Deus e à Virgem Maria. Abraçaram-se comovidas. Antes de retornar para casa, Dom Geraldo deixou um pequeno cartão para a serva de Deus: "Leônia, por favor, atenda o quanto antes esta pobre senhora, resolvendo o problema dela. Deus lhe ensinará o modo de resolver este primeiro caso". O cartão continha o nome e o endereço de uma mulher em dificuldades.

Humildade e coragem são virtudes irmãs. A coragem permite o nascimento das outras virtudes; a humildade as molda. Não é por acaso que a raiz da palavra é "húmus", a mesma raiz de homem e humano. Somos feitos de um barro semelhante à terra que Leônia encontrou há 60 anos. Barro de que também é feita a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Quebrada em mais de 200 pedaços, em 1978, a imagem da Aparecida foi reconstituída por uma fiel artista. Depois do atentado, apenas uma parte da imagem restara intacta: as mãos da santa postas em oração.

E foi justamente sobre a oração que Leônia escreveu no seu Diário Espiritual, há exatos 42 anos, em 30 de julho de 1975: "A oração é sobretudo amor. Começar a rezar, e a rezar bem, significa mudar radicalmente toda a vida".

Ah, Londrina. Se você soubesse que há 60 anos estava chegando a sua santa!

(PS: O autor agradece à Ir. Terezinha Almeida, postuladora da causa de beatificação de Madre Leônia, pelas informações que inspiraram esta crônica.)

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