A cachorrinha da rua
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
por Paulo Briguet
Em Londrina existe um bairro, neste bairro existe uma rua, e nesta rua vive uma cachorrinha vira-lata. Não tem dono, não tem coleira, não tem maldade. Acontece que na mesma cidade, no mesmo bairro e na mesma rua vive outra fêmea da mesma espécie, da raça pitbull. Ela tem dono e tem coleira. Não tem maldade, mas tem um instinto agressivo. Na manhã da última quarta-feira, o dono da pitbull saiu de casa e esqueceu o portão aberto. Por uma infelicidade do destino, a cachorrinha que mora na rua passava por ali naquele exato momento. A pitbull viu a vira-lata e atacou.
Os cães da raça pitbull são famosos por ter uma mordida muito forte. Alguns deles possuem uma característica perigosa: quando mordem, não soltam a presa. Sim, eu sei que existem pitbulls dóceis e que não fazem mal a ninguém, nem mesmo a outros cães. Lamentavelmente não era o caso.
A cachorra que mora na casa mordeu a cachorra que mora na rua, e não queria largá-la. Os ganidos da vítima eram lancinantes, a obstinação da agressora era total. Começou a juntar gente. A esposa do dono da pitbull assistia à cena e disse, em tom de resignação: "Não posso fazer nada, é a natureza dela".
Um morador da rua dirigia-se de automóvel ao trabalho quando viu aquela agitação toda. Parou o carro e foi ver o que estava acontecendo. Compadecido da pobre cachorrinha, resolveu tomar alguma providência. Pediu um balde de água. Jogou água mas a pitbull não soltava a vira-lata. Jogou uma pedra mas a pitbull não soltava a vira-lata. Pegou o extintor de incêndio do carro e descarregou sobre a mandíbula da agressora mas a pitbull não soltava a vira-lata.
O homem decidiu então fazer o inusitado. Entrou no carro e deu a partida, aproximando o veículo das duas cadelas. O ronco do motor foi a única coisa que fez a pitbull soltar a vira-lata. Rápida, a vítima refugiou-se debaixo do carro, onde a agressora não conseguia alcançá-la. Por alguns momentos, a pitbull ficou dando voltas em torno do automóvel, rosnando ameaçadoramente. Só saiu de lá com a chegada do dono, que conseguiu pegá-la no colo, levando-a para a casa e, desta vez, fechando o portão.
Após enrolar a cachorrinha em um lençol, o homem levou-a para o Hospital Veterinário, onde ela recebeu atendimento. Constatou-se que a vítima de agressão está para dar à luz alguns cachorrinhos. Nos olhos da vira-lata, vemos dor, mas vemos, acima de tudo, gratidão. Ela só está viva porque um representante da espécie humana teve compaixão e inteligência para fazer o que precisava ser feito.
Como disse Einstein, Deus não joga dados com o universo. O salvador da cachorrinha em breve será pai. Daqui a alguns dias, nascerão cachorrinhos. Daqui a alguns meses, nascerá um lindo bebê. Mas na quarta-feira já nasceu um herói.
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