Sobre tulipas e bitcoins
Bitcoin, peercoin, litecoin e outras tantas, são denominadas moedas virtuais, uma forma não regulamentada de dinheiro virtual, distribuída e controlada por seus desenvolvedores e que é usada e aceita entre os membros de uma comunidade virtual específica. Tem quem está ganhando dinheiro com elas. Há sentido nisso?

O passado nos ensina
Na Holanda do início do século 17, tulipas se tornaram um símbolo de status e isso fez com que seus preços começassem a subir. Quanto mais rara a tulipa, mais valiosa ela era considerada.

Exuberância irracional...
Alguém percebeu que podia lucrar com essa mania e passou a comprar bulbos de tulipa e revendê-los com lucro.

A coisa deu tão certo que os preços chegaram a aumentar 20 vezes em um único mês, dando origem a contratos de compra e venda de bulbos.

Em 1636, as tulipas e os seus contratos eram tão visados que eram negociados na Bolsa de Amsterdam, em Rotterdam, Haarlem, Leyden, Alkmar, Hoorn e outras cidades por todo o país.

... e queda espetacular
Por óbvio que alguém também iria se dar conta que estava pagando fortunas por nada mais do que uma planta de jardim.

Isso se deu entre fins de 1636 e início de 1637 em Haarlem, quando um comprador desistiu de um contrato de compra de bulbos, despertando o receio sobre os demais que passaram a vender seus contratos de forma frenética.

O mercado entra em pânico e, em questão de dias, os preços das tulipas caíram para um centésimo de seus valores anteriores. A bolha havia estourado.

Novamente uma exuberância irracional
Em primeiro de janeiro deste ano, o bitcoin estava cotado na casa dos R$ 3.140,00 e em 24/11 a R$ 29.240,00, sendo que somente em outubro sua valorização foi de 50%.

Pergunte-se: o que justificaria uma valorização de 1.000% nesse período? Existe alguma coisa no mundo real que valorizou isso?

Semelhante aos bitcoins
Da mesma forma que bulbos de tulipa, não há nada que garanta o valor de mercado do bitcoin (ou qualquer outra moeda virtual) e tampouco existe uma autoridade monetária encarregada ou capaz de sustentar seu valor.

Nada nem ninguém nos assegura que pessoas no mercado não acordem amanhã com uma percepção diferente e considerem o bitcoin uma tremenda bobagem e tentem se desfazer delas a qualquer preço.

O Banco Central alerta
O Comunicado nº 31.379, de 16/11/2017 do BC (Banco Central do Brasil) explica que as moedas virtuais não têm qualquer garantia de conversão para moedas soberanas.

Perceba-se que estas moedas não representam um ativo real de qualquer espécie (sua origem não é resultado da entrega de um bem ou serviço), e seu valor é decorrência única da confiança conferida pelos indivíduos ao seu emissor (via de regra, desconhecido).

Não confunda
A economia mundial caminha para a adoção de dinheiro virtual e podemos perceber isso claramente pela forma que utilizamos o cartão de crédito e débito para transações cotidianas. Cada vez mais carregamos menos dinheiro na carteira.

No entanto, tal adoção estará lastreada ao lado real da economia, tendo a chancela de uma autoridade monetária capaz de assegurar sua aceitação e circulação.

Sem regulamentação
Embora existam estudos, as autoridades monetárias ainda não sentiram necessidade de intervir nesse mercado a fim de regulamentá-lo, mas nenhum Estado se permitirá perder a capacidade de manter o controle sobre sua política monetária e tampouco isso é algo desejável.

Fica a recomendação
Antes de decidir-se por usar, comprar ou investir em moedas virtuais, entenda melhor como funciona e se está disposto a assumir os riscos.

Na opinião deste que aqui escreve: haverá quem ganhe, mas certamente esta é uma bolha especulativa e uma hora ela estoura. Meus desejos que não seja na sua mão.

Marcos J. G. Rambalducci, economista e professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras