A taxa de câmbio e nossa corrente de comércio internacional

O dólar comercial tem oscilado nos últimos três meses entre R$ 3,10 e R$ 3,20 mas muitos certamente devem se perguntar como e porque variações na cotação desta moeda estrangeira afeta nossa economia e, por conseguinte, nossas vidas.

A importância de exportar
Na última coluna (09/10) escrevi sobre nosso saldo na balança comercial buscando chamar a atenção para os seguintes pontos:
a) exportar é o que nos possibilita ter dólares para poder adquirir, via importação, aquilo que não temos;
b) que o importante no comércio internacional não é ter saldos positivos, mas sim, manter um equilíbrio entre a quantidade que vendemos e que compramos;
c) que nosso saldo na balança comercial nos permite contrabalancear nosso deficit na balança de serviços;
d) exportar significa também diluir os riscos por meio da diversificação de mercados.

Exportação e taxa de câmbio
A taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira. No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar americano, daí que a cotação mais utilizada seja a dessa moeda.

A taxa de câmbio real
De uma forma geral, a taxa de câmbio entre duas moedas deve traduzir a relação entre os preços de bens e serviços de cada país.

Por exemplo, se um Big Mac no Brasil custa R$ 15,00 e nos EUA US$ 5 a relação de um preço pelo outro é de 3 para 1, ou seja, 1 dólar custa 3 reais, ou ainda, a taxa de câmbio está em R$ 3,00.

Se fizer isso considerando a média de uma grande quantidade de produtos, temos o que se chama de taxa de câmbio real que, em última instância, representa o poder de compra da moeda de um país em relação aos produtos de outro país.

A taxa de câmbio nominal
Mas não é essa a taxa de câmbio que nós estamos acostumados a ver divulgada diariamente.

Esta taxa, denominada câmbio nominal, em vez de corresponder ao relativo de preços entre o produto nacional e o estrangeiro, tem sua definição determinada pela demanda e oferta da moeda (dólar, neste caso).

Funciona assim...
A moeda estrangeira é vista como uma mercadoria como outra qualquer.
Se existe uma oferta grande dessa moeda, o preço tende a cair (dizemos que nossa moeda fica apreciada) e ao contrário, se a procura é grande o preço dessa moeda tende a subir (dizemos que nossa moeda fica depreciada).

... exportadores ofertam dólares...
Ora, as exportações são pagas em dólar. O exportador não pode pagar suas contas em dólar aqui no Brasil e, portanto, precisa vender dólares para obter reais.
Esta transação é realizada no mercado de câmbio.

... importadores demandam dólares.
Quem importa produtos precisa dispor de dólares para pagar por eles. Então ele recorre ao mercado de câmbio para trocar reais por dólares para concretizar a importação.

O câmbio flutua ao sabor do mercado
Agora vejamos: se as exportações estão muito maiores que as importações, haverá muita oferta de dólares, o que fará com que o dólar se desvalorize frente ao real.

Com o real apreciado, fica mais barato comprar produtos importados já que você precisa de menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares para pagar pelas mercadorias que deseja.

Ora, essa demanda maior por dólares (já que ele está mais barato), faz com que o preço aumente, valorizando-o frente ao real. Este é o conceito de câmbio flutuante.

Qual a vantagem?
Lembra-se que o ideal é que tenhamos um equilíbrio entre o quanto vendemos e quanto compramos?
Pois é. O câmbio flutuante busca de forma automática manter esse equilíbrio.

Se está exportando muito, haverá muita oferta de dólares, o dólar fica desvalorizado (e por óbvio, o real valorizado), favorecendo as importações.

Se as importações estão elevadas, haverá muita procura por dólares, o dólar fica valorizado, favorecendo as exportações.

Marcos J. G. Rambalducci, economista, é professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras