Imagem ilustrativa da imagem Um arqueólogo no campus
| Foto: Gustavo Carneiro



Distopias são comuns na literatura e no cinema. É abundante o número de histórias que narram as desventuras humanas em cenários desoladores. O enredo distópico sempre aponta para um futuro nascido do fim, de eventos que sobressaem ao fracasso das civilizações.
O pensamento distópico é a encarnação da descrença nas utopias. Tragados pelos particularismos, os indivíduos matam a utopia e abrem caminho para o próprio extermínio como gênero humano, como experiência coletiva possível. O resultado, invariavelmente, é uma constatação meio envergonhada de que as chances da humanidade se esgotaram ou, muito pior, nunca existiram de fato.

A cidade futura precisa enfrentar o pessimismo distópico e reacender a esperança utópica. Para tanto, tem de encarar os desafios do presente e reconhecer os limites que se impõem ao seu desejo de ser melhor. Identificados, esses limites começam a se fragilizar na sua relação com a resistência que não cessa e enxerga horizonte promissor em meio a desertos e tempestades. Uma das vantagens do ser humano sobre os anjos é a oportunidade permanente de evoluir, de chegar aonde ninguém imagina. Perfeitos, os anjos nascem prontos e acabados. Imperfeitos, os humanos nascem para sonhar e lutar.

Um arqueólogo que chegasse a Londrina num hipotético futuro apocalíptico sairia à cata de algo que pudesse lhe dizer por que o povo desta terra vermelha foi extinto. Ao lado de sinais de ganância, desamor e muita tolice, o arqueólogo encontraria a beleza, a inteligência e a promoção do bem-estar geral que a maior universidade pública da cidade tanto produziu e disseminou. O arqueólogo do futuro – vindo do espaço, decerto – lamentaria que governos e cidadãos encapsulados em suas questões risíveis não tivessem compreendido que tudo que possuíam de bom fora semeado por sua universidade – em nome de cada um e de todos.
A cegueira política levou-os a não perceber que a cidade era reflexo vivo de sua grande universidade, da saúde à justiça, da educação à estética da vida urbana, do alimento sobre a mesa às tecnologias que entretinham, conscientizavam, salvavam vidas e nutriam expectativas em relação ao amanhã. O campus universitário, enfim, era o coração da cidade.

O arqueólogo do futuro chorou quando reuniu evidências de que a grande universidade lutou obstinadamente por autonomia, democracia e reconhecimento, mas terminou varrida pelo fim do mundo financiado pelos que a ignoraram, embora a tivessem explorado exaustivamente.
A cidade futura real ainda não acabou. Ela ainda tem chance de ser utopia, em vez de distopia. A visita do arqueólogo do futuro pode ser cancelada. Para que isso ocorra, é hora – sempre será – de abraçar e amar a grande universidade pública do presente, como se não houvesse amanhã.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL