Imagem ilustrativa da imagem O futuro da educação
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Há uma enorme discrepância entre o que ocorre nas escolas e aquilo que se discute, em termos educacionais, por empresas, ONGs, fundações privadas e burocratas do aparelho estatal.

Conceitos essenciais, como formação docente, currículo, avaliação e materiais didáticos, por exemplo, foram banalizados e incorporados à retórica corporativa e às ilusões do palavrório de autoajuda. É de lamentar que proliferem sistemas e plataformas de ensino e aprendizagem que desconheçam as diversidades e, principalmente, as desigualdades sociais mais agudas do País.

Soluções elaboradas por sujeitos que nunca pisaram por mais de cinco minutos o chão de uma escola aparecem agora como inevitáveis, apesar da indiferença em relação aos temas das culturas vivas que envolvem as comunidades escolares. No limite, trata-se de boas intenções camuflando um insano desejo por lucro e riqueza para poucos.

Na encruzilhada, a escola pública é esquecida. Ou se reitera que ela é inviável, alimentando as taras do pensamento privatista, ou se escondem seus reais problemas, tentando convencer a população de que a questão é meramente gerencial. O fato é que faltam recursos, os salários docentes são baixos, o reconhecimento público é quase nulo. Contra tudo isso, há milhares de jovens que têm o que dizer, podem participar das políticas para a educação e percebem o mundo com sentidos novos, cotidianamente ignorados ou criminalizados.

Culturas democráticas dialogam com a universidade e procuram saber como trabalham e de que necessitam os cursos acadêmicos que pensam, formam e avaliam os quadros humanos da educação. Mais do que isso: culturas democráticas valorizam o mundo público, a gratuidade, o compromisso ético, o valor creditado na conta do amanhã. Nesse sentido, alguns parâmetros precisam ser observados: o protagonista é o professor; o objetivo é o estudante; a pesquisa e a extensão são públicas, alheias às instituições privadas (com raríssimas e louváveis exceções); governos são provisórios e tendenciosos, jamais são neutros, ou seja, não querer pensá-los politicamente é ingenuidade ou, bem pior, má-fé.

O futuro da educação requer os velhos e bons remédios de sempre: famílias com emprego e renda, disseminação social de princípios e valores humanistas, democracia política e social, valorização de professores, respeito à juventude e, portanto, canais abertos para sua participação em todas as pautas educacionais.

A sociedade brasileira tem de dar visibilidade à escola real, invariavelmente ocultada atrás de belas peças de propaganda, estatísticas e análises friamente quantitativas. Mesmo nos colégios privados mais caros e exclusivistas – onde boa parte das elites diz que o futuro manterá os privilégios exatamente nas mesmas mãos – o deserto educacional é desolador.

Ao decidir enfrentar a questão educacional, dando-lhe caráter republicano, democrático e prioritário, o País dará, enfim, um largo passo à frente, forçando-se a admitir que não existem caminhos fragmentados nem isolados, que política, economia, cultura, saúde e educação andam lado a lado e compõem a totalidade histórica da nação.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL