Imagem ilustrativa da imagem A insistência fascista
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Democracias protegem seus cidadãos e garantem que desempenhem com liberdade suas ações. Nesses termos, as instituições políticas devem compor a linha de frente da experiência social, criando e desenvolvendo métodos eficientes de defesa do livre arbítrio individual e dos movimentos coletivos da diversidade das formas de ser e viver.

A política, articulada com a cultura e a economia, precisa conferir amplo apoio aos sujeitos que expõem ao mundo suas aspirações e realizações. Assim, indivíduos, grupos e fragmentos de classe social podem explicitar suas visões e construir a realidade. O mundo acaba por se tornar reflexo das diferenças em processo permanente de diálogo. Mais do que simplesmente tolerar o diferente, a democracia o consagra; muito mais do que aceitar opiniões que se contradizem, a democracia as alimenta. É em nome disso que ela se fortalece.

Um artífice privilegiado da vida democrática é o professor. Nas escolas, ele captura os sinais das experiências do mundo e os reúne em suas atividades. Ao tratar dos temas cotidianos de crianças, jovens e adultos, o professor se converte em mediador de existências, aproximando realidades, rompendo barreiras e enfrentando preconceitos. Educado pelos gravetos encontrados em seu jardim e talhado pela escrita desses pequenos pedaços de madeira registrada no chão da história, o professor cria pontes e abre portas. No fundo, todo professor é um desafio que deseja ser encarado, a fim de que seus alunos amadureçam e ganhem autoconfiança. Essa mediação entre o mundo da vida e os sistemas às vezes tão ásperos das exigências de reprodução social é na escola que se produz de forma mais substantiva, para muito além dos limites da moral familiar.

Na escola, quando é dada ao professor a liberdade para pensar e agir, a democracia se torna invencível. Lá, de muitas maneiras, são confrontadas as ideias deixadas no tempo e as ações que intuíram manter ou alterar o rumo dos acontecimentos. Ao professor cabe o diagnóstico do tempo, a incitação ao saber crítico, a obrigação de nunca deixar que o mundo pare de girar – o trabalho docente é, em essência, o movimento que permite aspirar a um tempo novo todos os dias.

Quando a política e suas instituições não se guiam pela democracia, elas põem em risco a liberdade dos sujeitos que deveriam proteger. No momento em que a política abraça moralizações privadas e preconceitos que estão na carne e na alma dos velhos donos do mundo, o professor pode ser visto como vilão e virar réu. Num cenário de criminalização da escola e dos seus artífices, a democracia desfalece. Em seu lugar, ressurge a mentalidade fascista, que não reconhece nada que foge ao considerado "normal" e "natural".

O fascismo deseja colonizar o mundo da vida, impedindo as liberdades democráticas e impondo os julgamentos morais daqueles que se arvoram proprietários da realidade. Se para isso o professor tiver de ser denunciado, retirado da escola e conduzido a uma delegacia de polícia para esclarecer algo sobre aquilo que sua liberdade lhe garante como prerrogativa democrática, nenhum esforço será medido: o fascista é acostumado a tratar quem trabalha e luta como caso de polícia; por isso, faz da política um horrendo manual de seu moralismo e de suas ideias completamente fora do lugar.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL – [email protected]