A escola da unidade na diversidade
O cartunista Ziraldo, o pai do Menino Maluquinho, costuma afirmar que ler é mais importante que estudar. Sem saber ler, seria impossível estudar. Aprendendo a gostar de ler, estudar é apenas uma consequência.
O aprendizado, assim como a leitura, depende de uma série de fatores para ocorrer e deslanchar. Há quem aprenda observando e comparando o que está nos livros com o que é dito por professores e se constata ao redor, na prática cotidiana. E não são poucos os que aprendem dando asas à imaginação, recorrendo ao realismo fantástico das ideias. Ao colocar lado a lado a leveza do pensamento e o peso da realidade, esses indivíduos criativos elaboram respostas curiosas aos desafios do mundo. Em todos os casos, contudo, evidenciam-se estilos de ler a vida e aprender com os outros.
O sujeito que decide se tornar professor e compartilhar leituras para o aprendizado é, antes de tudo, alguém que optou por estudar a vida inteira para ter o que dizer, fazer e escrever. Em essência, todo professor é um baú de histórias preciosas – para aproveitar sua riqueza, é preciso decifrá-lo, descobrir como lê-lo.

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Defender que leis definam o que e como algo pode ser dito por um professor é o mesmo que estabelecer regras para uma leitura "correta" do mundo. Mordaças não servem só para silenciar vozes; prestam-se, bem antes, a censuras contra o pensamento. Antes ainda, intencionam determinar o que é e o que não é válido como fonte de inspiração e orientação na vida.
A melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa, em qualquer tempo, é o encontro com a diversidade de leituras do mundo, as quais tenham nascido da autonomia e do estímulo à autocrítica. Forçar a diferença, monitorando-a, é retórica democrática encoberta por grossa capa fascista. Nada mais.
Propor vigilância e punição contra quem lê o mundo de modo livre, crítico e plural é disfarce para impor ideias que não conseguem convencer sem apelo ao preconceito e ao ódio. Quem faz ronda em escolas para detectar doutrinação "esquerdista" quer tão somente impor suas "idiotices".
A escola que incentiva a leitura – portanto, forma gente para a vida – mantém abertas suas portas e deve resistir a intrusos que, sob pretexto de privilegiar a diferença (de resto, falsa e ilusória), só têm por objetivo um mundo em que seja impossível a igualdade.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL