Há quem ache que 50 tons de Cinzas foi um livro revolucionário ao retratar modos pouco convencionais de relações sexuais, eu não concordo. Para mim, Hilda Hilst ou Marquês de Sade, Anaïs Nin ou Marquês de Sade, citando poucos para ser breve, fizeram isso melhor.

A primeira vez que li um clássico da literatura erótica foi quando, ainda pré-adolescente, me aventurei nas páginas infindáveis do gigantesco Decameron, Giovanni Boccaccio, escrito em 1350, aproximadamente. Sensacional, de fato. Depois, vieram todos os outros, o Boca Maldita, Nabokov, Miller, Llosa, a lista é grande. Mas, confesso, meu trecho predileto é de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis, capítulo 55, 'O diálogo de Adão e Eva', que consegue relatar uma relação sexual inteira só com duas palavras (Virgília e Brás Cubas) com as pontuações diferentes. Genial!

Mas assim como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade - em seus poemas eróticos/pornográficos de publicação póstuma no livro Amor Natural - "O chão é cama para o amor urgente"

No Histórias Mínimas de hoje, os textos dos leitores não vão relatar histórias picantes como o leitor poderá encontrar em Mulheres, de Bukowski, por exemplo. Mas garanto alguma ousadia.

Vamos aos textos!

Abraços,

Patrícia Maria


AMOR SELVAGEM



Quando estavam atravessando uma pracinha aqueles dois seres sentiram algo nos olhares. Ele sentiu seu cheiro de fêmea e ela o esperou. E, ele se aproximou com aquele jeito vagabundo, querendo tudo sem dizer nada.Aquele amor animal e irracional aconteceu ali mesmo com algumas pessoas olhando com inveja. Mas o que fazer com aquele amor selvagem e apressado? O que tinha que ser feito foi feito, ali mesmo, na praça, diante de todos.

Após aquele ato impensado e sem censura esperaram alguns minutos para que tudo voltasse ao normal, ficassem livres um do outro. Nem tiveram tempo de fumar um cigarrinho, talvez, fossem vegetarianos.

Após este fato cada qual seguiu seu caminho, sem compromisso. Afinal, apenas fizeram o que a natureza exigia e foi uma das poucas vezes que o amor não era concorrido.

O velho homem que assistia tudo aquilo teve inveja e pensou com seus miolos humanos e depravados: "Que bom seria se gente fosse igual aos cachorros."

MANOEL JOSÉ RODRIGUES é leitor da Folha de Londrina


"Nem tiveram tempo de fumar um cigarrinho, talvez, fossem vegetarianos". Não sei nem o que pensar dessa frase Manuel. ⊙_⊙

A DIVERSÃO NA JUVENTUDE



Naquele tempo da juventude, guardamos algumas histórias que quando lembramos não aguentamos e damos algumas risadas, pois foi uma época que a juventude de hoje jamais passará.

Adolescente ainda, mas trabalhando normal como uma pessoa adulta fazendo todo o tipo de trabalho que nos era imposto sem reclamar, pois os patrões eram bem rígidos, ganhávamos muito pouco naquela época de segunda a sábado entre oito até dez horas por dia.

Nossa diversão nos finais de semana eram as brincadeiras dançantes marcadas nas casas de alguns colegas de escola, mas o que deixou marcado mesmo era quando juntávamos algumas pessoas e íamos para a "ZONA", alguns menores de idade ainda, sem armas, sem drogas com a cara limpa, sem carro não existia nenhuma pessoa que a família tinha e mesmo se tivesse ninguém iria pedir sem ônibus as linhas de ônibus eram bem restritas, hoje se anda para todo o lugar de ônibus e o mais importante não tínhamos dinheiro, era coisa muito rara, íamos a pé.

Chegando na "ZONA" sem dinheiro, algum ficava sentado naquele sofá de tecido escuro outros ficavam dançando com as meninas no salão central com aquelas luzes coloridas e aquele globo girando até que chegasse algum cliente e tirava nossa parceira.

Mas o hilário disso tudo era quando alguém gritava lá no fundo "é a Polícia", saíamos todos correndo uns pela porta outros pela janela procurando um lugar para esconder no mato, passado o sufoco, todos caíam na risada e seguia a pé embora para casa, fazer o quê?.

A Polícia quando pegava algum menor de idade naquele ambiente batia muito. Quanto mais chorava mais apanhava. Quando levava alguém preso, era colocado na sela junto com os adultos.

Não era o meu caso, eu sempre era o primeiro a sair correndo.

ANTONIO JOSÉ RODRIGUES é aposentado em Londrina.


Menor de idade fugindo de batida policial na Zona após sua extensa jornada de trabalho infantil - Uma realidade extremamente pornográfica. ⊙_⊙



A CALCINHA DO CHE



Minha gata paulistana me leva pra conhecer essa cidade sem fim, essa selva de pedra. Quero respirar a fumaça dos motores, mas na verdade o que mais quero é conhecer seu jardim, e sarar todas as minhas dores nos lençóis da sua cama. Nessa cidade onde todos correm atrás do coelho maluco – estou atrasado, estou atrasado! – E o relógio sempre disparado no cuco. Eu só queria que você me batesse com seu coelhinho azul, me chamasse de Cebolinha e dissesse que falo tudo 'elado'.

Levo comigo, apenas, de presente, uma calcinha do Che, uns poemas que rabisquei no busão pensando em você e nada mais. Na carteira apenas alguns poucos reais, na mochila duas trocas de roupas. O mais importante viaja comigo, no meu colo, junto a mim. A calcinha vermelha fio-dental, com o Che estampado na frente, logo abaixo os dizeres: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."

Na verdade levo comigo todos os sonhos do mundo, essa mania idiota de enxergar dragões em moinhos de vento, essa coragem infantil diante do grande medo, esse medo imaturo diante do beijo. Minhas mãos tremem, meu coração palpita. As palavras não saem, gaguejo, vou dar um passo e tropeço no vazio do espaço. Todas as vitrines refletem seu rosto. Meu coraçãozinho bate no pescoço, vai sair pela boca, saltitando em disparada, eu atrás, como um caçador de borboletas.

Não tema minha loucura, minha camiseta estampada com a cara do Coringa, prometo não te morder sem o teu consentimento.

Esse meu senso de humor, que te constrange, é apenas uma dissimulação sorrateira da minha vontade. Eu nunca iria até você sem o seu convite, minha coragem é feita de desejos. Quero sim conhecer São Paulo, quero sim conhecer seu sorriso mas, jamais iria sem aviso.

Você é minha musa, a mais distante que já tive; entre nós tudo é feito de papel, a minha missão é guardar nessas folhas cada sentimento, fazer um poema em prosa, e o tema é Você!

RICARDO CHAGAS é bibliotecário no SESC Ivaiporã.

Bom, depois dessa singela e adorável declaração de amor do Ricardo, vamos terminando por aqui nosso Histórias Mínimas.



E, escreva seu conto ou crônica ou poesia ou teatro ou livro e envie para [email protected]. Estou aguardando! Beijos até amanhã!