Estava eu vagando pela internet procurando um livro pelo qual tenho uma apreço particular cujo pano de fundo é uma Greve Geral - [porque sim, (Não vou entrar em detalhes de como os assuntos do momento me causam um fetiche por referências em obras que eu já tenha lido)] - Incidente em Antares de Érico Veríssimo. Meu apreço particular vem de origens familiares. A cidade fictícia fica pouco ao norte de onde vive minha família materna (São Borja/RS) e claro a história surreal-sensação de Veríssimo que não precisa de apresentação.

O texto é de 1970, então, não é de domínio publico, eu estava procurando um e-book para baixar a um preço módico e achei. Mas, achei, também, uma lista em um site chamado 'Listas Literárias', que eu vou deixar o link abaixo, com uma curadoria brilhante de dez obras literárias onde acontecem grandes greves, Incidente em Antares, inclusa. Vale muito a pena colocar na sua lista e na sua biblioteca.

Nesse momento você deve estar tipo "Mas, Patrícia! Do que você está falando? Literatura, Greve Geral, qualé? Não vamos misturar as coisas!"

Por que não? Vai me dizer que você é daqueles que põe arroz num canto e feijão no outro?

Como disse o poeta Geraldo Vandré: "Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer"

Abraços!

Patrícia Maria.


CRÔNICA DE UMA PROFESSORA GREVISTA - PARTE II

MAIO/2015 - Jamais gostaria de escrever a segunda crônica, mas já que isto não foi possível, vá lá. Estamos de volta a Curitiba para mais uma aula de Cidadania, assim como na escola, a lição necessitava de revisão. Desta vez, até as sombras das araucárias nos foram negadas, cerceando o sagrado direito - até então - de ir e vir. Vivemos na terra das araucárias a Democracia da Ditadura. Quiseram, também, calar a nossa voz de contestação - como se isso fosse possível.

A voz de quem apanha só se multiplica.

Todos que lá estiveram levaram consigo os demais educadores e seus familiares. As mãos que batem são, também, vítimas.

Será que elas compreenderam isto? Admito a derrota momentânea, porém não há mérito na derrota sem a luta. As armas eram desiguais: bombas, gás, spray, jatos d'água, animais, escudos, cassetetes repressão, força, truculência versus voz, lenços improvisados embebidos em vinagre, capas de chuva e máscaras (adquiridas dos camelôs a cinco reais a unidade), determinação, resistência, oração.

Somos APENAS servidores públicos. Se fizeram conosco, temo pela sorte dos bandidos do Estado.

Já na chegada, avistei os representantes da lei devidamente uniformizados, equipados e enfileirados como peças de dominó. Vi tristeza e cansaço em muitos daqueles olhos. Os recursos não faltaram neste momento. Havia sobre nossas cabeças um pássaro que vigiava de longe, produzia vento, levantava poeira e abafava o som da nossa voz.

Conforme o dia avançava, o cansaço ficava evidente, já que a cama da noite anterior foi a poltrona do ônibus. Experimentei um sofá de papelão reciclando uma caixa de água e tive como almoço um cachorro - quente sabor dinheiro - a vigilância sanitária concordaria comigo.

Não demorou muito para que as notícias insanas fossem divulgadas uma após a outra. O comando foi dado e os cansados corpos uniformizados transformaram-se em gladiadores.

As palavras tornam-se insuficientes para descrever o que as imagens amplamente divulgadas já revelaram, no entanto, vou eleger apenas uma: COVARDIA.

Fui testemunha da história que deixará, em várias mídias, registrado os nomes – um em especial - dos promotores da guerra contra os educadores da terra das araucárias.

LUZIA IRENE PLAÇA DE FARIAS é professora em Borrazópolis


Achei essa crônica da Luzia aqui no arquivo, está escrito que é a parte II mas me desculpem, não achei a parte I em lugar algum. heheh (sorriso sem graça)



BELLA CIAO

Foi numa manhã de domingo, justamente domingo, o dia consensualmente tido como o mais tedioso de todos, enquanto tomava meu café tranquilamente, como quem tem o tempo como seu criado, que derramei um pouco de açúcar e fiquei a observar as pequenas formiguinhas que caminhavam sobre a mesa carregando pedacinhos de açúcar.

Vistas de cima, não passavam de pontinhos pretos, carregando outros pontinhos brancos adocicados. Pus-me a imaginar que, em algum microcosmo paralelo, aquelas quase milimétricas criaturas, as quais não via se não com a ajuda das grandes lentes de meus óculos, eram, na verdade, grandes aventureiras; que desbravam, como nos filmes de Indiana Jones, terras longínquas, em busca de cristais preciosos de açúcar. Haveria de ter uma recompensa substancialmente gratificante em tamanha empreitada, uma recompensa em dinheiro, penso eu. Mas existiria dinheiro na terra das formigas? Imediatamente, imaginei pequenos niquelzinhos forjados em barro, das mais variáveis cores que a terra nos oferece, trabalhados como minúcia detalhista. De um lado, perfil altivo de uma formiga real; do outro, seu valor medido em grãos de açúcar. Ah, que sociedade adorável esta das pequeninas...

Apertei mais os olhos, forçando a vista a fim de ver as pequenas bolsas de moedas de minhas amigas, mas nada. Definitivamente não as tinham...

O pensamento correu rápido e tudo que veio em mente foi: – COMUNISTAS! As pequenas e até então inofensivas formigas, são na verdade comunistas.

A ideia me tomou de assalto. Assustado, comecei a ver tudo vermelho, uma pequena formiga-militante gritando: – VIVA O SOCIALISMO!

O hino do partido nacional socialista ao fundo, e duas ou três companheiras devidamente uniformizadas, com boinas vermelhas, estavam marchando rumo a um pequeno bebê brincando na calçada.

Comem criancinhas! É sabido de todos que os comunistas miseráveis comem criancinhas, e, com essas, não poderia ser diferente. Que terríveis formigas socialistas vieram parar em minha mesa! Não o bastante, em meio ao meu delírio, outro grupo se aproximou e gritou: – Hermosa hormiga es la que lucha!

Mais espanto: além de comunistas, são feministas! A esse ponto, com o coração palpitando, não pude conter as mãos trêmulas, que "acidentalmente" deixaram escapar dentre os dedos a xícara quente de café... Era o fim. Em meio ao burburinho que se produziu, um coro entoava Morto per la libertà. Oh, bella, ciao, bella, ciao, bella, ciao, ciao, ciao...

ÂNGELA CAROLINE KREUZBERG é leitora da Folha de Londrina

Desculpe-me, Ângela, com todo o respeito, o que exatamente tinha no seu café? ¬‿¬
E é isso ai, crianças! Lembrem-se que ler nos faz melhores escritores, leitores, cidadãos, pessoas, criativos e uma infinidades de boas qualidades! Assine a Folha de Londrina para receber as colunas e as matérias exclusivas direto no seu e-mail. Confira a lista de livros que citei acima. Escreva um conto para [email protected]. E, não esqueçam de se programar que amanhã é um dia atípico. Beijos a todos. Até semana que vem!