Há alguns anos, eu lancei uma campanha de troca de presentes no Dia dos Namorados entre meus amigos. Eu daria um presente de amor para cada amigo que quisesse participar e me desse um outro em troca. Minha surpresa foi que eles aceitaram e eu troquei vários presentes no Dia dos Namorados com os amigos e amigas, por uns dois ou três anos, ao menos, não tenho certeza.

Por que? Porque eu acredito que amizade é amor. Eu namoro meus amigos. Eu os admiro. Eu os curto e compartilho no Facebook. Tenho anseio em saber se estão bem, em conversar, nem que seja por áudio no WhatsApp, sobre questões existenciais. Quero sempre encontrá-los com um sorriso no rosto, abraços grátis e beijinho na face. Quero saber o que eles pensam sobre política ou sobre eu roubar a senha do Netflix deles. Quero ir em shows que não iria por eles; tomar cafés, fazer complô para jantar hambúrgueres e deixar que eles lavem minha louça suja em mutirão. Quero viajar com eles em ideias e por terras. Quero encontrá-los depois de anos sem vê-los e em dois minutos amá-los mais pelas pessoas que estão se tornando. Se alguém se identificar no mesmo amor por seus amigos como eu, dê um beijinho de Dia dos Namorados nessas pessoas que te circundam, elas merecem.

Mas e o sexo? Alguém está se questionando. Se a pessoa com quem você faz sexo é seu amor, você é sortudo; se for seu amigo, você é privilegiado. Conhece aquela frase "Case com alguém que você goste de conversar. Ao envelhecerem, suas aptidões de conversação serão tão importantes quanto qualquer outra." Então, faça isso. Case agora! (Não consegui achar a autoria dessa frase, o Google diz que é do Dalai Lama ou da Clarice Lispector. Quem souber me mande no e-mail: [email protected], por favor!)

Escrevi demais. Vamos aos textos!

Patrícia Maria.


AMIZADE E PERDÃO

Havia muito tempo que concebia a amizade como uma forma de amor. Talvez, a mais pura. Tinha consigo que nenhuma ideologia ou convicção política, religiosa, ou de qualquer natureza deveria prevalecer, sacrificando uma amizade, consolidada depois de décadas de convivência, mesmo que geograficamente distantes.

Era preferível renunciar ao debate sobre estes assuntos, caso houvesse o risco de comprometimento da amizade. Nem sempre, todavia, fazemos as coisas como pensamos que devem ser feitas.

Chegando aos 50 anos, tinha convicção sobre poucas coisas. Uma delas era a de que toda experiência, incluindo as dolorosas, ensinam algo e nos amadurece. Tinha aprendido que o oposto do amor não é o ódio. É a indiferença. Se há brigas, isso não é necessariamente mal. É sinal de que existe afeto. Se depois, houver superação e reconciliação, é porque existe, sem nenhuma dúvida, elevado grau de afetividade.

Foi por estas e outras que ficou aborrecido e magoado quando foi insultado. Pelo menos assim lhe pareceu. O motivo era bobo. Uma insignificante divergência de opinião sobre uma dada situação que nem dizia respeito às suas vidas e ao que nelas há de importante. Aquele tipo de discussão em que todos, em certa medida, têm e não têm razão, sem que isso tenha o condão de modificar a realidade. E nem pensavam tão diferente assim.

Mas, nem tudo tinha acabado. Quando imaginou que uma amizade de muitos anos tinha chegado ao fim, recebeu um pedido de desculpas, o que era de grande valor, até mesmo em face do temperamento inibido, discreto e de poucas palavras de quem o solicitava. Gesto nobre. Dele somente são capazes as pessoas de boa índole e coração puro. Elegante, além de tudo. Algo para se orgulhar, sim. Saber pedir perdão e saber perdoar são atitudes cristãs, que nos aproximam mais de Deus! Tornam-nos mais humanos, ainda que isso possa parecer paradoxal.

Relembrou então, que quando estiveram juntos em alguns momentos tristes e outros alegres, não era pelos outros, era pela amizade e pelo carinho sincero que nutria por ele. Sua atitude nobre e de consideração o pegou de surpresa. Deveria ter pedido perdão também, pois, em casos como esse, os dois são culpados, mas ficou sem ação e sem palavras. Estava feliz demais e, assim, mais uma vez, sem querer, foi egoísta.

Disse algumas coisas, mas não disse o que deveria ter dito. O que lhe confortava era que ele, seguramente, compreendia. Aprendeu mais uma lição. Lembrou Mark Twain: "algumas pessoas nunca dizem uma mentira se souberem que a verdade pode magoar mais". Precisava refletir mais sobre algumas atitudes.

MAURO VASNI PAROSKI é juiz do Trabalho em Londrina

Oi Mauro, o que houve? Qual foi o insulto que gerou toda essa mágoa. Certa vez chamei um amigo de canalha e ele nunca mais esqueceu. Joga na minha cara até hoje!
Imagem ilustrativa da imagem DECLARAÇÃO DE AMOR
| Foto: Shutterstock
Suricatos: S2

LINHAS DE COMUNICAÇÃO

Ele tentou de várias maneiras iniciar a conversa ao celular da forma mais carinhosa e brega possível. "Oi, pirulito... oi, piru... alô? Olá... borboleta lind... hei? Tá me ouvindo? Alô?". O pobre rapaz estava diante de um ônibus cheio, concentrado na sua conversa e sendo desafiado, pelo sinal falho da operadora telefônica, a manter sua coragem em chamar sua amada de nomes insólitos, digamos.

Há determinados momentos da vida que a coragem aparece num pequeno instante. Ela cresce aos poucos, se fortalecendo no minuto em que a crença no que será dito ou feito pode ser bem sucedido. Não seria errôneo compará-la a uma fagulha. Para aqueles desprovidos de culhões, uma dose de tequila é o pontapé indispensável. Mas o moço romântico estava sóbrio e talvez para ele o hábito de utilizar aqueles termos não eram tão desagradáveis. Porém, era visível seu descontentamento em repetir o feito quando o sinal era restabelecido. Gasta-se a energia, gasta-se a coragem.

O diálogo cortado desqualifica qualquer assunto. Um "eu te amo" não transmitido por telefone pode diminuir a população de uma cidade, visto que esse casal pode interromper o relacionamento deixando de lado futuros planos. Uma mensagem justificando a ausência persistirá ainda mais na falácia de que homens são todos cretinos ao não comparecerem ao encontro. Hoje, quase tudo é comunicado pelo telefone e seus afins. Até o panelaço foi combinado pelo WhatsApp.

O sinal não voltou, e o rapaz desceu do ônibus sem se declarar para a amada. Enquanto alguns riam do caso, outros estavam no além graças ao fone de ouvido.

Aumenta o amor, aumenta a abrangência falha das operadoras; aumenta a breguice, aumenta a tarifa. Falando nisso, mais ridículo que o apelido pirulito são os R$3,25, não é?

BRUNO PETRI é jornalista em Londrina

Oi, Bruno. Essa tarifa que você citou é a da operadora de telefone ou do ônibus? Pirulito é realmente um apelido estranho.

Escrevam, lindos!! Aguardo seus textos no [email protected]. Abraços!