Semana passada não teve Histórias Mínimas, talvez vocês não tenham notado, mas eu senti uma falta!! Mas como a realidade estava tão eletrizante, cheia de dramas, traições, ameaças de morte, segredos, informações confidenciais que, confesso, era difícil encontrar uma literatura para competir.

Hoje não tem tema. Mas, coincidentemente todas as autoras são mulheres. Boa Leitura!

Abraços,

Patrícia Maria.


MEMÓRIAS PÓSTUMAS DO SEXO FEMININO



Morri numa sexta-feira, 8 de março, há dois anos. Esse não deve ser o melhor jeito de iniciar um texto, praticamente invocando as técnicas de Brás Cubas. Duvido, inclusive, que alguém será corajoso o suficiente para publicar este escrito, porque além de morta eu sou mulher: mulher morta. Acho que não haveria legitimidade para tanto. O fato é que eu morri. Morri no dia internacional da mulher, mesmo após receber tantos parabéns durante o dia. Quero dizer, eu vinha morrendo todos os dias, a cada ofensa, a cada cantada nojenta que recebia na rua, mas naquele dia eu morri de verdade. Aconteceu que eu tava voltando da faculdade, depois de um longo dia de trabalho, e a rua mais se parecia com um breu. Tudo escuro. De repente, veio aquela cena velha conhecida por nós mulheres: o vulto de dois caras seguindo cada passo que você dá. Eles estavam me seguindo e eu aumentava o passo. Seguia e eu corria. Até que não teve jeito. Me encurralaram num beco ao final da rua, me roubaram e tomaram meu corpo pra si. Ei, o corpo é meu. Devolve. Mas não adiantou. Senti nojo de mim mesmo, um pedaço de carne exposto no vidro do açougue. Me debati, rebati, resisti. Quando eu não aguentava, veio ela. Veio a morte. A morte tava tão acostumada com aquele tipo de situação que veio me buscar vestindo uma capa cor-de-rosa. Parecia até que a morte era uma de nós que morre assim e depois é treinada pra nos buscar quando essas situações acontecem. Que macabro! Das cinco mulheres que morrem por hora no mundo, eu fui mais uma. E virei estatística mesmo, nada mais. Só minha família chorou pelo ocorrido e, apesar de clamar por justiça, assistem aos meus assassinos trazendo tantas outras mulheres pra junto de mim.

Daqui de onde estou – e não me arrisco a dizer qual lugar é este – conheci outras tantas meninas iguais a mim. Mara, por exemplo, me contou que veio parar aqui depois de engravidar de um jogador de futebol que a matou pra não pagar pensão. Júlia, por sua vez, se apaixonou por uma outra menina e alguém se sentiu no direito de lhe tirar a vida, vai entender. Gisele foi abraçada pela dona morte tentando fazer um aborto, enquanto Jana apanhou demais do marido durante a noite e acabou amanhecendo aqui. Depois de conhecer umas cinco ou seis garotas, notei que as histórias se repetem. Todas nós, resguardadas as particularidades dos casos, morremos pelo mesmo motivo: somos mulheres. E todas nós aqui reunidas – as trans, as bissexuais, as negras, as héteros, as lésbicas – vemos as truculentas opressões num silêncio estrondoso e assustador. E morremos mais uma vez. Há ainda aquelas garotas que encontro no corredor da morte. Não morreram ainda, mas estão quase. As que tanto apanham e acabam tentando tirar a própria vida, as que são assediadas de forma tão inescrupulosa que se afundam na depressão, as que perdem a própria autoestima para satisfazer seu parceiro. Hoje, por coincidência, é oito de março. As flores que vejo as mulheres receberem, me remetem às flores que recebi em meu leito de morte. E não só porque morri, hoje não vejo muito o que se comemorar, considerando que tantas outras continuam morrendo. Continuam sentindo calafrio ao percorrer a rua escura. Continuam inseguras diante do espelho quando colocam um short considerado curto demais pra viver em sociedade.

Ser mulher parece um pesar e desse pesar eu padeci. Senti na pele o medo e a impotência que meu sexo carrega simplesmente por assim o ser. E, na real, até hoje não entendi o intuito de tantas flores. Qualé?! Ser mulher tá mais para armadura do que para jardim. Se flores salvassem a vida de alguma mulher, eu, talvez, ainda estivesse viva.
Lutem. Façam das cinzas de tantas nós uma luta particular. Juntas somos uma só. Juntas somos mulheres!

NATHÁLIA DALBIANCO é leitora na Folha de Londrina e cronista em cronicário.


Ontem eu assisti Twin Peaks. Quando criança eu tinha medo de David Lynch. Demorei 25 anos para assistir Twin Peaks por conta desse pavor. Você deve estar pensando... 'Oi?!?' Pois é... esse é o tipo de pensamento que a gente tem quando mistura Lynch com defunto-autora pós-machadiana. Muito bom! ⊙‿⊙

PRAZERES DA VIDA



Em plena quarta feira, passeio pelo calçadão da minha cidade. Me deparo com dois idosos sentados no banco lendo seus livros. Não consegui ver a capa, e me arrependo por não ter ido perguntar. Nos dias de hoje todo mundo vive correndo. A maioria já acorda pensando: eu tenho que levantar, tenho que ir trabalhar, tenho que fazer compras, tenho, tenho, tenho...

Qual a dificuldade de simplesmente viver? Por que todos precisam ter obrigações? Por que não podemos acordar e ir caminhar no lago ou comer um pastel na feira? Carpe Diem em latim significa aproveite a vida. Seja como esses idosos. Saia de casa, coma algodão doce, leia um livro na praça, caminhe, viaje...

Infelizmente me incluo nos jovens que não reparam nos prazeres que a vida pode trazer. Ficamos ligados na tecnologia. Um lindo pássaro, os raios do sol refletindo em nossa face, tudo isso passa despercebido quando estamos olhando a tela de um celular.

Aqueles idosos confortaram meu coração. Me deram esperança de no futuro ser capaz de aproveitar os pequenos prazeres da vida. A imagem dos dois sentados lendo uma bom livro me traz paz. Quando tudo parece sufocar. Quando estou lotada de deveres. Penso neles, sempre.

CAMILLA GIOVANNA DE SOUSA é estudante em Londrina


Camilla, qual livro você está lendo agora? Qual o seu sabor de pastel de feira? O de queijo é meu predileto. E, não estou lendo livro algum por que estou com o vício em jogos de celular. ⊙_⊙

EM SETE DIAS



SEGUNDA-FEIRA - Entre a sessão de poesias e a de ficção, eu a vi pela primeira vez. Seus olhos castanhos se perdiam entre todos aqueles livros. Azul. Era a cor da capa do livro que coloquei diante de meu rosto para disfarçar.

TERÇA-FEIRA - Ela estava sobre as pontas dos pés, para alcançar a ultima prateleira, uma voz dizia na minha cabeça: "Vá ajudar!". Não fui. Fiquei no mesmo lugar. Tomei um gole do café frio que havia comprado. Ela saiu, sem nenhum livro.

QUARTA-FEIRA - Enquanto eu folheava minha revista em quadrinhos, ela sorriu para alguém, deu um pulinho, pegou um enorme romance. Sorri, quando ela fez uma cara decepcionada por ter pegado o livro errado. "Sou um tolo", pensei.

QUINTA-FEIRA - Vesti minha calça caqui e camisa branca. Comprei dois cafés e um romance. Cheguei antes de a livraria abrir. Fazia frio. Pensei em todas as coisas interessantes que eu poderia lhe falar. Mais frio. Ela chegou e eu não olhei, ela se foi.

SEXTA-FEIRA - Entre a sessão de poesias e a da ficção, estava ela. De moletom. Eu com ressaca, ela sorriu. Eu me segurava em uma prateleira, ela sorria e me olhava. E, eu a ignorava, ela olhava incrédula, achara seu livro tão procurado. Eu tomei os dois cafés, ela tirou o dinheiro no bolso, eu nem mais olhava. "Sou mesmo um tolo"

SÁBADO - "Oi, tudo bem? - disse aqueles olhos castanhos que agora estavam presos nos meus.

THAYNARA CRISTINA SILVA é estudante em Ivaiporã


Ufa!! Quase achei que o final não era feliz!! ¬‿¬



E, você que quer me mandar um texto e ainda não mandou? Está esperando o quê? [email protected] Já estou tão carente de e-mails que vou mudar o nome da coluna para Histórias Minhas e começar a escrever sozinha! Brincadeira, vou não. ʘ‿ʘ Abraços e até amanhã!